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Equilíbrio na Cultura dos Excessos

Atualizado: 31 de ago. de 2021




Nos últimos anos, vimos o yoga conquistar o Ocidente. O número de praticantes cresce a cada dia e a mídia está fazendo a prática oriental tornar-se familiar para todos. A primeira “onda” do yoga veio com o movimento hippie, na busca da transcendência e de um estilo alternativo de vida. Atualmente, a “nova onda” do yoga surge num contexto em que o estresse e a sobrecarga definem o cotidiano das grandes cidades e, nesse ambiente conturbado, ele vem preencher a carência da civilização por paz e equilíbrio.


Acredito que um dos motivos que levam a essa carência seja a cultura dos excessos vivida pelo homem moderno: o excesso de consumo; de contas; informação; comida; hedonismo; poluição atmosférica, sonora, auditiva e visual; de pensamentos; de hesitação emocional; excesso de trabalho; excesso de ego. Enfim, a sobrecarga dos exageros que leva ao desequilíbrio.


Fazendo um contraponto a esses hábitos, o yoga, em sua filosofia e prática, nos mostra outra direção: o caminho da equanimidade interna por meio do qual aprendemos a nos relacionar com a vida com mais equilíbrio e discernimento. Trata-se de uma técnica de harmonização que nos permite encontrar o equilíbrio nos altos e baixos da vida. Ele nos ajuda a administrar as emoções para vencermos as inferioridades, os instintos, as compulsões e os automatismos negativos. Nos induz a uma profundidade e clareza de pensamentos que nos trazem sabedoria; mostra o caminho da paz e nos ensina a magia da transcendência.


O yoga busca o olhar da consciência em meio à agitação cotidiana, começando pela investigação do universo de nossos pensamentos. Ao focar a mente, podemos ultrapassar a nuvem escura dos pensamentos confusos e desordenados e alcançar uma atmosfera mental mais clara, onde a luz da sabedoria traz inspiração e uma direção positiva. O excesso de pensamentos deixa a mente confusa e nos distancia de nós mesmos. Portanto, somente quando nos silenciamos é que podemos perceber a existência plena do nosso ser.


A prática busca a abstração dos sentidos em contraponto aos excessos de estímulos sensoriais que sobrecarregam o sistema nervoso e provocam estresse. É o recolhimento em si mesmo para aquietar a agitação provocada pelos apelos e condicionamentos do mundo externo. Com isso, o yoga nos orienta a descobrir o recanto da serenidade no nosso interior e apaziguar nossos ânimos.


Ao praticar yoga você é convidado a sair do “mundinho do ego” e do excesso de narcisismo para encontrar algo mais em sua natureza íntima. Ele nos ensina que, na simplicidade, somos livres, e que podemos estar bem sem precisar de muita coisa, exercitando assim o desapego e o despojamento das coisas inúteis e insignificantes. Somos incentivados também à prática de ações altruístas e da compaixão como meio de vencermos o excesso de individualismo para nos tornarmos seres humanos melhores, em harmonia com valores éticos universais.


Por meio da prática do yoga, a alma pode se sentir viva, mesmo estando na turbulência dessa dimensão da vida material. Pode encontrar, ainda que diante dos excessos da rotina moderna, um pouco de paz, um dia por vez, até que você descubra que a paz faz parte de sua natureza essencial e, sendo assim, inabalável.

Adriana Braga de Oliveira*

Professora do Padmi Núcleo de Yoga e Arte

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